Capoeiragem – Mestra Lu Pimenta

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Há oito anos registrei um depoimento acerca da capoeira e a inserção da mulher naquele período marcado pela profusão das políticas publicas para a cultura. Luciana Mara Pimenta Rocha tem 36 anos é educadora física e Mestre de capoeira. Integra o Grupo Cordão de Ouro de Belo Horizonte MG e também a nova geração de mestres de capoeira.

Por que escolheu a Capoeira? Bom, brinco dizendo que foi amor a primeira vista, mas não deixa de ser verdade. Não tem um motivo especial, simplesmente amei desde a primeira vez que tive contato.

Por que Lú Pimenta, esse apelido você ganhou na capoeira? Meu apelido é meu nome e é sobrenome mesmo.

Quando e com qual Mestre iniciou sua trajetória na capoeira? Iniciei em 1990 com o Professor Preguiça, integrante do Grupo Capoeira Gerais, onde permaneci por cinco anos.

Na sua avaliação, houve alguma mudança na capoeira desde quando começou, pode apontar algumas? Certamente houveram varias mudanças na capoeira, desde musicas, até fatores ligados a hierarquia e respeito dos próprios capoeiristas entre si.

Dentre os benefícios que a capoeira proporcionar, que você destacaria? Acredito  na facilidade que a capoeira proporciona em fazer amigos, de gerar a igualdade entre os seres de raças diferentes, de condições sociais diferentes. Afinal de contas “Ao som do Berimbau somos todos iguais.

Seria correto afirmar que as dificuldades para as mulheres na capoeira são maiores que as dos homens, ou essa distinção não existe? Isso é muito relativo. Acredito sim que a dificuldade é muito maior para a mulher capoeirista, mas creio também que muitas das mulheres não fazem por onde; conquistar seu espaço na capoeira etc. Se citarmos exemplos como oportunidades para lecionar cursos e viagens. E prestarmos atenção na proporção em que os homens são convidados. Comparados com as mulheres, é gritante a diferença. Mas as próprias mulheres; graduadas ou lideres da capoeira quando realizam seus eventos, raramente convidam outras mulheres. Então fica realmente muito difícil acreditar também em uma valorização por parte dos homens.

O que é o movimento feminino de capoeira, qual o objetivo desse encontro? Se você esta citando o Movimento Feminino Mineiro, evento em que estive na liderança por muito tempo, essa foi uma ideia que surgiu de uma conversa de fim de roda. Eu e mais duas amigas combinamos fazer um movimento onde pudéssemos dar oportunidade as mulheres capoeiristas. Muitas vezes essas mulheres encontravam escondidas atrás de seus professores, ou das limitações impostas pelo machismo. Então a ideia é promover uma mostra de talentos em uma roda, onde somente as mulheres teriam voz ativa. A principio só era permitido a participação das mulheres, tanto na bateria quanto jogando, depois com o enorme numero de homens que começaram a seguir nossos encontros foi permitido que eles participassem, desde que respeitassem o espaço das mulheres na roda. O Movimento Feminino Mineiro já existe há mais de um ano, e tem crescido a cada dia com mais.

Qual seria a orientação, a sugestão para as meninas que ambicionam chegar à mestra de capoeira? Que treinem mais, que estudem bastante e se fundamentem para que mereçam estar nesta posição. Curtam a capoeira e façam dela uma filosofia de vida. O respeito pela arte deve ser recíproco…a satisfação que ela nos causa é reflexo de um trabalho de qualidade.

O ofício dos mestres de capoeira foi registrado no livro dos saberes do Iphan em 2008, na sua opinião, qual o significado desse reconhecimento para o capoeirista? Muita responsabilidade. Esse reconhecimento deve ser levado a sério como qualquer outra profissão, pois acima de tudo somos educadores, referência para muitas pessoas que fazem do seu mestre um espelho para suas ações.

O Ciclo de Debates Pro-Capoeira, promovido pelo Ministério da Cultura com intermédio da Fundação Cultural Palmares tem estimulado a discussão sobre a regulamentação da atividade do capoeirista. Qual sua opinião sobre essa questão? É gratificante ver leis e projetos buscando a regulamentação de uma arte que é genuinamente brasileira e que sofreu tanto preconceito por muitos anos. Sou feliz e apoio qualquer tipo manifestação neste sentido, pois é uma luta que faz parte da minha vivência como praticante e amante da arte.

A capoeira está em mais de 150 países, até onde ela pode chegar? Em minha opinião, a capoeira não tem limites

 

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